A entrevista com os entrevistadores: Zé Alberto Andrade

O quarto entrevistado é José Alberto Santos de Andrade,  o Zé Alberto, repórter da Rádio Gaúcha, nascido em 9 de janeiro de 1965, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Trabalha na Rádio Gaúcha desde 1985, desempenhando as funções de produtor, editor, repórter, apresentador e eventualmente comentarista. Zé Alberto se formou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),  em 1985 e, recentemente, realizou a cobertura dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, juntamente do repórter André Silva. A entrevista foi concedida em 5 de novembro de 2010, para meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) "A entrevista com os entrevistadores: um estudo sobre a atuação dos repórteres esportivos de campo, em emissoras de rádio, em Porto Alegre", para a Unisinos.

Blog do Moreno: Sendo o repórter um 'interruptor necessário' durante as jornadas, como interromper sem atrapalhar o narrador?

José Alberto Andrade: A receita é esperar o tempo certo - a pausa da respiração. O exercício é muito difícil e os "atropelos" são comuns e inevitáveis, mas é necessária a preocupação para que estes aconteçam no menor número possível. A orientação é ser breve para não prejudicar. Se há uma excepcionalidade, vale a "atropelada', mas só na excepcionalidade.

BM: Quais as diferenças entre trabalhar "em casa" e "fora de casa", principalmente quanto à quantidade de repórteres nas jornadas.

J.A.A.: Quando o jogo é "fora" o repórter tem trabalho dobrado, pois normalmente ele está sozinho. Além de cuidar do time que é  o objeto (normalmente Grêmio e Inter) tem que estar atento para tudo o que acontece nos adversários, além de descrever lances do jogo nos dois lados do campo, mesmo que esteja mal posicionado. Há ainda uma maior responsabilidade no controle técnico da transmissão.

BM: No Rio Grande do Sul, os repórteres têm como uma de suas características a imparcialidade, pois em sua maioria, não revelam para qual clube torcem. Qual a importância desta não-identificação nesta função?

J.A.A.: O Rio Grande do Sul tem a cultura da desconfiança, infelizmente . Se alguém se manifesta a favor de algo ou de alguém, passa a ser rotulado de "comprometido" no pior sentido desta palavra. Parece que na hora que alguém diz que tem uma preferência perde sua honestidade. Lamento, mas sou levado a crer que existe uma desonestidade latente em quem pensa assim e que, se estivesse no lugar do jornalista, desvirtuaria fatos em função de sua paixão. A coisa não é assim. A imprensa é tão honesta quanto qualquer outra categoria. Não interessa que as pessoas saibam para quem um dia fulano ou beltrano torceu ou até torce. Fica a ideia de que quem descobre isto passa a ter um instrumento de pressão, como se fosse um chantagista de plantão. Admiro o desprendimento que existe nos estados onde há mais clubes dividindo as torcidas, mas aqui se vive a preferência pela dúvida sobre a confiança.

BM: Repórter tem de apenas informar ou deve opinar também durante a transmissão?

J.A.A.: A informação fundamental sempre. Tem muita gente que confunde determinadas informações com opinião. Dizer que um jogador ou um juiz falhou não é necessariamente opinião. Ressaltar que alguém está mal em campo é informar algo que está sendo percebido, ou até dizer que fulano está mal porque vem treinando mal e municiar com mais informações quem deve realmente juntar todos os fatos e estabelecer os conceitos. O repórter  tem direito de opinar quando solicitado, mas não pode sobrepor sua opinião à do comentarista. Tem, no entanto, a obrigação de corrigir quando há fatos sendo mal utilizados para fundamentar um ponto de vista.

BM: Como você avalia as respostas que são dadas pelos entrevistados nos momentos que antecedem, intermedeiam e sucedem uma partida? 

J.A.A.: São respostas sob total efeito da tensão do jogo, algo rico em espontaneidade, mesmo que seja com a chamada "cabeça quente". Traduz o espírito, o ambiente do momento do jogo.  Não acho nenhum problema grave se após, já no vestiário, surgir uma nova resposta do mesmo entrevistado. É preciso compreender os momentos, mas nunca perder a declaração.

BM: Muitos dizem que as respostas dos jogadores de futebol são sempre as mesmas nesse tipo de entrevista. Mas as perguntas, não são sempre as mesmas? Você busca variar nas perguntas? Se sim, de que forma? É possível um diálogo entre repórter e jogador? (resposta pode estar incluída na primeira. Se for o caso, ignore esta pergunta). 

J.A.A.: Nestes momentos o segredo é a simplificação. Se as perguntas são as mesmas, as circunstâncias são diferentes e nada garante que a resposta será a mesma, embora seja algo comum. Costumo procurar variar as perguntas de acordo com a ocasião. Há de se considerar que o jogador está focado no jogo e não tem como objetivo principal se articular para dar entrevistas. E mais: se as perguntas e respostas fossem sempre as mesmas, não haveria treinador proibindo entrevistas. A proibição mostra que há algo diferente sendo dito. O diálogo é difícil de se estabelecer pela dinâmica dos momentos, mas, quando possível, enriquece a reportagem.

BM: Como você, entrevistador, se sentiu na colocação de entrevistado?

J.A.A.: Absolutamente à vontade. Entrevista é o momento de contar histórias, esclarecer dúvidas, rebater críticas, fazer elogios. A posição de entrevistado é mais cômoda, pois a obrigação é sempre de quem pergunta. Basta a quem responde, quando não lhe agrada a questão, dizer que prefere não responder. Se for educado com o entrevistador, melhor ainda.

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