A entrevista com os entrevistadores: William Lampert

REPÓRTER trabalha atualmente na Rádio Guaíba
O terceiro entrevistado é William Rossi Lampert,  repórter da Rádio Guaíba, nascido em Porto Alegre, no dia 18 de novembro de 1986. O jornalista formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em 2007, começou a carreira como estagiário na Rádio Pampa,  entre os anos de 2006 e 2007, onde fazia reportagens, plantão e produção. Em 2008, chegou à Rádio Guaíba, onde desempenha até os dias atuais a função de repórter esportivo. Vale lembrar que a entrevista foi concedida em 3 de novembro de 2009, para meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).



Blog do Moreno: Sendo o repórter um 'interruptor necessário' durante as jornadas, como interromper sem atrapalhar o narrador?

William Lampert: "Tem que esperar o narrador terminar ou o lance ou o texto de patrocínio, tentar entrar na respirada dele, mas nunca no meio de um raciocínio. Por exemplo, o narrador logicamente respira no meio do texto comercial, não se interrompe no meio, espera o fim do texto. Claro se for uma informação importante, ai o fato jornalístico ganha a prioridade. Esse ponto de interromper fora de casa é mais complicado porque há muitas vezes o delay nas transmissões. Então quando você sente a respirada e chama, na verdade você já vai entrar no meio da frase seguinte, mas acaba sendo inevitável nesse caso."

BM: Quais as diferenças entre trabalhar "em casa" e "fora de casa", principalmente quanto à quantidade de repórteres nas jornadas.

Lampert: "A diferença fora de casa é que sua responsabilidade é muito maior em todos sentidos. De informação, de descrição do lance, de trazer detalhes. Ali é só você, então nenhum detalhe pode escapar. Atrapalha muitas vezes em depoimento de gol, que você está atrás de uma goleira e o gol sai do outro lado. Você pode perder algum detalhe que em casa não perderia porque são dois repórteres atrás das goleiras e mais um na intermediaria, isso dentro de campo."

BM: No Rio Grande do Sul, os repórteres têm como uma de suas características a imparcialidade, pois em sua maioria, não revelam para qual clube torcem. Qual a importância desta não-identificação nesta função?

Lampert: "Agora sobre abrir qual o time que torce, por ser bipolarizado, aqui fica complicado. Ou você é A ou é B, então pode criar uma antipatia muito grande, por isso o melhor é não ser identificado. Diferentemente de Rio e São Paulo onde são quatro times e a equipe esportiva vai acabar dividida entre os quatro times."

BM: Repórter tem de apenas informar ou deve opinar também durante a transmissão?

Lampert: "Eu acho que depende muito da situação. Num lance de pênalti, você deve emitir sua opinião se foi ou não, pois sua visão às vezes é a melhor naquele momento. Agora não se pode emitir opinião quanto a esquema tático, se o treinador deveria mexer ou não. Pode é levantar a bola para que o comentarista fale do assunto."

BM: Como você avalia as respostas que são dadas pelos entrevistados nos momentos que antecedem, intermedeiam e sucedem uma partida? 

Lampert: "Como a mídia hoje tem uma repercussão incrível, as respostas se tornaram menos espontâneas. O que é dito por qualquer um hoje em um grande clube repercute através principalmente da internet no Brasil e no mundo inteiro. Muitas vezes, especialmente no jornalismo esportivo, as perguntas são semelhantes, como, por exemplo, sobre as dificuldades da partida seguinte, mas nem sempre as dificuldades são as mesmas. Um jogo contra o líder ou contra o lanterna tem dificuldades diferentes e a resposta é sempre que é um jogo difícil. Com medo de dar outro tipo de declaração o jogador hoje tem uma entrevista quase que programada."

BM: Muitos dizem que as respostas dos jogadores de futebol são sempre as mesmas nesse tipo de entrevista. Mas as perguntas, não são sempre as mesmas? Você busca variar nas perguntas? Se sim, de que forma? É possível um diálogo entre repórter e jogador? (resposta pode estar incluída na primeira. Se for o caso, ignore esta pergunta). 

Lampert: "São poucos casos que dão uma resposta diferente. Normalmente a resposta diferente vem em questões que não criam tanta polêmica. Antigamente se tinha uma maior provocação via microfone, hoje se fala muito em respeito ao adversário. Pra mim você provocar, falar que vai marcar gols, não é desrespeito. Hoje obter boas declarações em coletiva pré e pós-jogo somente se o cara não for como a maioria. As melhores respostas são obtidas dentro de campo, quando recém acabou o jogo e o jogador cansado dá respostas mais espontâneas. Sobre o diálogo entre repórter e jogador é mais complicado hoje em virtude das coletivas. É possível quando se marca uma entrevista exclusiva, ai pode se obter uma entrevista com maior espontaneidade."

BM: Como você, entrevistador, se sentiu na colocação de entrevistado?

Lampert: "Eu já tinha ido a entrevistas de Rádio e TV como jornalista e me senti muito próximo daquilo que penso como o jogador se sente em entrevistas, principalmente antigamente quando não se tinha a coletiva e no dia-a-dia cada um fazia a sua entrevista. O jogador se sente mais à vontade com um jornalista de jornal ou de internet te entrevistando. A câmera e o microfone te acanham, te deixam mais nervoso. Isso muitas vezes acaba que o jogador da uma resposta mais natural para um repórter de jornal ou internet e na TV e no Rádio ele fica mais travado. No dia-a-dia isso acabou com as coletivas porque acaba sendo tudo junto."

Comentários