Hierro Martins: “Sou ameaçado todos os dias”

Do Correio do Povo, por Fabrício Falkowski: Hierro Martins é o líder da Guarda Popular, torcida organizada – embora não se autointitule assim – que ganhou notoriedade no Brasil inteiro por cantar e apoiar o Inter em todas as ocasiões. Apesar de espocarem informações de que estaria envolvido em mais de um episódio de violência, Hierro tem um discurso equilibrado e exemplar, que se fosse transportado para a vida real, transformaria os estádios em lugares muito mais seguros. Como isto não aconteceu, ele mesmo frequenta os jogos do clube, no Beira-Rio e fora, escoltado por seguranças.

“Sou ameaçado todos os dias, por telefone, por bilhete, por e-mail, com carta debaixo da porta. Tenho de ter cuidado. Por isso, vou aos jogos com segurança privada”, justifica. Falei com Hierro por telefone na tarde desta quinta-feira. Ele acabara de sair de uma reunião com a direção do Inter no Beira-Rio. A seguir, os principais trechos da conversa.

1. Você é acusado de participar de várias brigas, inclusive em uma antes do jogo contra o América-MG, nesta quarta-feira. O que tem a dizer?
Não vou falar nada sobre isso. Se for o caso, vou falar na Justiça.

2. Você anda armado? Usa faca ou tem arma de fogo?
Não. Sou contra. Neste momento, estou no Beira-Rio sozinho e desarmado.

3. É verdade que você anda com seguranças?
Sim. Há dois anos, sempre que vou aos jogos do Inter, uso segurança privada. Nos jogos fora do Rio Grande do Sul, também contrato seguranças do local. Sou ameaçado todos os dias, por telefone, por bilhete, por e-mail, com carta debaixo da porta. Tenho de ter cuidado. Por isso, vou aos jogos com segurança privada.

4. E quem paga pela contratação dessa segurança?
Desde que sofri um atentado quando chegava em casa, há cerca de um ano, a torcida decidiu que devia pagar a segurança. Antes disso, era eu mesmo que pagava com recursos próprios.

5. Como foi este atentado?
Eu chegava em casa e, quando botei a chave na porta, saltaram uns caras de dentro de um Fusion preto. Nem usavam máscara. Não me mataram porque não quiseram, mas encheram a minha cara de coronhadas.

6. A torcida recebe alguma ajuda financeira do Inter?
Não. Temos apenas 50 torcedores cadastrados, que poderiam entrar nos jogos de graça. Mas a maioria destes 50 é sócia e nem precisa deste subsídio. Em alguns jogos fora, o Inter nos dá os ingressos e, em alguns casos, o ônibus. No jogo contra o Independiente, deram um ônibus e a gente pagou outros dois. Não queremos benefícios pois acreditamos que todo mundo tem de pagar para ver os jogos.

7. A reunificação das torcidas pode acontecer?
Acho que sim. Estamos trabalhando por isso. Todos os torcedores querem que a gente cante junto no estádio. Pedem isso para a direção do clube. Mas é difícil. Ainda há muitas mágoas e divergências. Estamos tentando acertar os ponteiros.

8. A Guarda Popular prepara uma supresa para o jogo contra o Coritiba, no outro domingo, no Beira-Rio. O que será isso?
É uma história longa. Vou ter de contextualizar. Vamos lá. No jogo contra o Coritiba lá, uma torcida organizada deles roubou três faixas importantes da nossa torcida. Eram faixas com muito significado, pois estavam com a gente desde o início. Todo o Brasil espera que a gente pegue os caras aqui, mas não vai acontecer. Apesar da ofensa gravíssima, vamos dar uma resposta diferente para eles.

9. O que acontecerá?
Estamos confeccionando um bandeirão de 30 x 30 metros. Ela vai juntar as três faixas roubadas. Vamos exibir ela no estádio pela primeira vez no jogo contra o Coritiba. Estamos tentando consertar essa cultura errada de que as torcidas organizadas tem de se matar. Foi desonroso para nós, mas vamos responder dessa forma.

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