O interior é aqui: os bastidores de um "clássico" da região

Um olhar diferente em Canoas x Nóia
Muitos questionam o fato de a imprensa e torcidas, de um modo geral, classificarem todos os times além da dupla Gre-Nal como clubes do interior, mesmo quando se tratam de equipes de Porto Alegre, Região Metropolitana e Vale dos Sinos. Até a Federação Gaúcha de Futebol pensa assim, visto que o título simbólico de Campeão do Interior inclui na disputa Porto Alegre, São José, Cruzeiro, Canoas e Novo Hamburgo. E eles tem razão. Sugiro à quem discorda, que vá a um jogo destas equipes, principalmente a um "clássico", que envolva duas delas e descubra as  diferenças.
Vagas de sobra
Logo na chegada ao Complexo Esportivo da Ulbra tive dificuldades em escolher qual o lugar que estacionaria o veículo. Não pela falta de opções, mas pelo grande vazio em volta. O lugar mais "cheio" que encontrei foi ao lado de outros dois carros. Em um estádio grande isto é inimaginável. Ah, paguei R$ 5,00 por isso, em um estacionamento dentro da Universidade, com seguro e todas as regalias. No Beira-Rio e Olimpico, você não gasta menos de R$ 20,00 para deixar seu "xodó" aos cuidados de um flanelinhas que você prefere até nem saber a procedência.

Despreocupação com o horário
Decidi ir ao jogo quando assistia à um programa esportivo na TVCom e no intervalo escutei a chamada para o jogo, que começaria em instantes. Olhei ao relógio e vi que faltavam apenas 20 minutos para o mesmo iniciar. Resumindo: Deu tempo para eu, minha namorada e meu jovem cunhado nos preparar e percorrer os cerca de 6 km, que nos separavam do estádio, em menos de meia hora, sem trânsito algum. Ao chegar lá, ninguém na fila por ingressos e revista rápida da Brigada Militar. Em jogos da dupla, se você sai de casa uma hora antes já corre o risco de nem entrar no estádio.

Separados por uma corda
Torcidas lado a lado no estádio
Ao adentrar o estádio, somos perguntados. "Canoas ou Novo Hamburgo". Ao responder, apenas uma sinalização para qual lado deveríamos nos acomodar. A separação das torcidas dava-se por apenas uma corda, que rastejava ao chão. Cinco policiais tinham como única tarefa assistir à partida. Em jogos de duas torcidas na capital, pelo menos um cordão de 50 PM's, cordas e grades enormes dividem os torcedores.




Cachorro louco
Não, não é a música do TNT. Um dos primeiros lances da partida foi talvez o mais curioso. Um cachorro endiabrado entrou no gramado em meio à uma jogada de ataque da equipe da casa. Outro caso raro em jogos na capital envolvendo Grêmio e Inter. Bem coisa de interior, não é mesmo?

Tranquilidade
A foto abaixo é apenas um exemplo. Ao todo, creio que o público entre torcedores do Canoas e do Nóia não ultrapassava 200 espectadores. Como pode se perceber, a tranquilidade pairava dentro do Complexo Esportivo. Torcedores com radinho de pilha (inúteis, pois nenhuma rádio de Canoas transmitiu ao jogo), pipocas, pasteis e refrigerantes predominavam nas pequenas cadeiras, ocupadas principalmente por parentes de atletas e membros da comissão técnica. Em jogos da dupla, familiares de atletas assistem aos jogos diretamente dos camarotes cedidos pelos clubes, sendo praticamente impossível a interação com os demais admiradores.
Torcedor acompanha a partida  do Canoas com toda a camodidade possível
Transmissão instantânea
Como dito no tópico anterior, nenhuma rádio daqui transmitiu o jogo. Porém, a rádio ABC 900 AM de Novo Hamburgo estava lá, para garantir que os hamburguenses que não se deslocaram até Canoas perdessem sequer um lance. De quebra, os poucos torcedores presentes ao estádio podiam ouvir a narração instântanea do locutor, visto o pouco barulho no entorno. Na capital, até se ouve as narrações, mas diretamente dos radinhos de pilha, sintonizados em sua maioria na Rádio Gaúcha.

Som ambiente
Pela falta de torcida, é fácil escutar o que os atletas gritam em campo. Isso ajuda muito, pois devido ao desconhecimento da maioria dos jogadores, por fisionomia, por vezes, os identificamos pelo chamado de companheiros de time. "Toca Márcio, eu tô livre".  Em grandes estádios, isso é praticamente impossível, mesmo em partidas com pouco público.

Mais educação
Pelo fato de a maioria dos espectadores em jogos como o de hoje não serem familiarizados com o futebol, mas sim com os que participam dele, os famosos "palavrões" são raros durante as partidas. "Xingamentos" como "careca", "ladrão" e "bem feito" são comuns.

Política
Uma faixa chamou a atenção. Presa junto à grade que separa o campo da torcida, a faixa visa homenagear o prefeito de Canoas. "Agradecemos ao prefeito Jairo Jorge pelo apoio". A "homenagem" se justifica. A Prefeitura de Canoas cedeu R$ 1,8 milhão ao clube para a disputa do Gauchão. Em grandes instituições, o apoio público além de desnecessário, é proibido.

"Te pego na saída"
Com a expulsão do goleiro Eduardo Martini, do Nóia, por falta grave no final do jogo, o clima esquentou dentro campo. Após o apito do juiz, diversos atletas brigaram na pista atlética da Ulbra. Inconformado, um jogador do Canoas atravessou o vestiário e tentou, pela rua, entrar no vestiário dos visitantes para acertar as contas com o adversário. Não teve sucesso, mas em grandes praças o contato pós-jogo é muito restrito.

O ponto negativo
Falta emoção. Hoje, o público ainda teve sorte, pois a partida foi acirrada até o fim. No entanto, se dependessem das arquibancadas, os jogos do Gauchão envolvendo equipes pequenas seriam carentes daqueles gritos e vibrações propiciadas pelas torcidas de grandes clubes. Isso, sem dúvida alguma, tira pelo menos a metade do brilho do espetáculo. Nem ao menos uma faixa para colorir o ambiente. Do lado do Canoas, sequer uma camisa.

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