A entrevista com os entrevistadores: Filipe Gamba

Repórter da Gaúcha é o 1º entrevistado
O primeiro entrevistado é o repórter da Rádio Gaúcha, Filipe Pereira Gamba. Nascido em 24 de janeiro de 1982, na cidade de Osório, Rio Grande do Sul, Gamba é formado em jornalismo na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Iniciou sua trajetória no jornalismo esportivo na Rádio Osório, em 2001, atuando como repórter.
Um ano depois chegou à Rádio Guaíba, exercendo a função de repórter onde permaneceu até 2008, quando foi trabalhar na Rádio e TV Bandeirantes, atuando como repórter e apresentador. Em 2009, Filipe Gamba chegou à Rádio Gaúcha, onde trabalha atualmente como repórter esportivo e atua como âncora em alguns programas de esportes.

Blog do Moreno: Sendo o repórter um 'interruptor necessário' durante as jornadas, como interromper sem atrapalhar o narrador?
Filipe Gamba: "Entendo que somente assuntos relevantes, importantes, podem autorizar o repórter a interromper o narrador. Em uma transmissão de futebol o narrador é a alma da transmissão, ele é o mais importante. Uma interrupção mal colocada atrapalha o raciocínio do narrador e quebra o ritmo de uma jornada. O repórter é frequentemente acionado pelo narrador, portanto, o que seria informado em uma interrupção pode esperar alguns segundo e ser informado no momento em que o repórter é acionado. Claro, existem exceções, nesse caso não há como esperar. Mas, em regra eu adoto o primeiro modelo."
BM: Quais as diferenças entre trabalhar "em casa" e "fora de casa", principalmente quanto à quantidade de repórteres nas jornadas?
Gamba: "Para a qualidade da transmissão o jogo em casa é, infinitamente melhor, são mais repórteres à disposição 3, 4 até 5. A jornada ganha, naquilo que eu chamo de “estética de rádio” e em informação. As transmissões fora exigem muito do repórter, afinal, ele, em regra, viaja sozinho, precisa cobrir dois times, fica atrás de uma goleira e tem dificuldade em enxergar os lances do outro lado do campo. As dificuldades são maiores, porém, em termos de informação não creio que ocorram perdas desde que o repórter seja qualificado e bem informado."

BM: No Rio Grande do Sul, os repórteres têm como uma de suas características a imparcialidade, pois em sua maioria, não revelam para qual clube torcem. Qual a importância desta não-identificação nesta função?
Gamba: "A importância é total. Repórter identificado com algum clube não é repórter. É torcedor segurando microfone. Aliás, nem deveria ser aceito como jornalista. O comentarista que revela o clube pelo qual tem simpatia é tolerável, à medida que o comentarista não lida com a informação na sua essência, ele emite opinião sobre informação. Já no caso do repórter é inconcebível. Imagine como seria uma entrevista de um repórter-torcedor, com o técnico do sei time após uma conquista de título? Seria um oba-oba de dar vergonha. Repórter tem que apurar, investigar, perguntar, não se contentar com nada e, fundamentalmente, repórter precisa ser isento, só assim adquire credibilidade, caso contrário está fadado ao fracasso."
BM: Repórter tem de apenas informar ou deve opinar também durante a transmissão?
Gamba: "Repórter tem que informar, repórter não opina. Mas, há casos em que o repórter, por vezes, emite a sua opinião, não de forma explícita, mas de forma implícita. Exemplo: ao descrever um lance, o repórter pode opinar que a jogada aconteceu porque o lado esquerdo da defesa estava aberto. Isto é uma opinião maquiada em meio a uma descrição. Não gosto disso. Em uma transmissão tem um profissional responsável pela opinião e este responsável é o comentarista."

5 - Como você avalia as respostas que são dadas pelos entrevistados nos momentos que antecedem, intermedeiam e sucedem uma partida?
Vamos partir do seguinte princípio, a entrevista para ser boa precisa acima de tudo contar com a boa vontade do entrevistado. Se o entrevistado não estiver disposto a falar, e nesses casos isso acontece com freqüência, a entrevista perde em qualidade. Vamos a alguns exemplos claros: Antes de iniciar uma partida é o melhor momento para entrevistar os jogadores, afinal, eles estão, geralmente, sem pressa, caminhando pelo gramado, conversando com os companheiros e dispostos a conversar. Entrevistas com este contexto rendem bastante, são as melhores e, atualmente só ocorrem em jogos fora de Porto Alegre, já que por aqui, o jogador não vai ao gramado antes de iniciar a partida. Diria mais: as entrevistas fora de Porto Alegre antes de iniciar uma partida são as melhores de todas que acontecem com os jogadores, inclusive, melhores que as que ocorrem no dia-dia, onde são realizadas as coletivas.

As entrevistas em intervalo de jogo são as que menos acrescentam. O jogador sai com apressado, porque tem tempo para estar no vestiário para iniciar a conversa com o técnico, afinal são 15m de intervalo. Geralmente, se obtem segundos de respostas de cada jogador, há exceções, mas em regra é assim que funciona.

As entrevistas pós-jogo para serem boas dependem do resultado da partida. Se o time perde, o jogador, revoltado, concede entrevista de má vontade, ou tenta fugir da mesma. Se vence, a entrevista se torna muito boa. A missão do repórter é conseguir ótimas declarações nos dois casos.

BM: Muitos dizem que as respostas dos jogadores de futebol são sempre as mesmas nesse tipo de entrevista. Mas as perguntas, não são sempre as mesmas? Você busca variar nas perguntas? Se sim, de que forma? É possível um diálogo entre repórter e jogador? 

Gamba: Respondida na anterior.
BM: Como você, entrevistador, se sentiu na colocação de entrevistado?
Gamba: "Algumas vezes me encontro na condição de entrevistado, quando sou convidado para palestras, trabalhos de conclusão etc... Confesso que não me sinto à vontade. Tenho formação como entrevistador. Como entrevistado me sinto deslocado, não consigo agir com a mesma naturalidade. Creio que seja uma questão de hábito. Com o tempo a gente aprende a conviver com esta condição de passar a ser a referência, passar a ser visado. O jogador de futebol, desde muito novo, ele começa a conviver com as entrevistas, ou seja, tem uma vivência nesse sentido, por mais que se diga que “entrevista de jogador de futebol são todas iguais”. Eu discordo, totalmente. O jogador de futebol evoluiu. Atualmente, o jogador tem a sua própria assessoria de imprensa para cuidar, justamente, deste lado. São raras as entrevistas de jogadores da dupla Gre-Nal que não acrescentam ao grande público. As famosas “entrevistas vazias” ficaram em um passado distante. Hoje o futebol é profissional."

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